27/02/14

Há duas horas atrás estava eu no IST com as minhas amigas quando somos amavelmente abordadas por um miúdo que nos perguntava se acreditávamos em magia. 4 anos na capital dão para encontrar "muita" gente e claro que achámos que era uma valente tanga, que ele era só mais um, com a mania que é esperto e estávamos mais do que prontas para o mandar embora... até ele começar a mostrar aquilo que sabe fazer.

Era péssimo a decorar nomes, mas era um bom aspirante a mágico.
Eu sou suspeita que me entusiasmo demasiado com estas coisas, mas como não estava "sozinha" não desconfiei de mim própria, tinha uma "crente" e uma "leiga" comigo, deu discussão assim que chegámos a casa e contámos ao resto das nossas amigas. "Ah mas ele esteve sempre a tocar nas cartas que tu tinhas na mão" "Ah mas ele nunca parou de falar e era assim que te distraia..." "mas eu tinha as cartas na mão ele não pode ter trocado sem eu dar conta..." Uma coisa é certa, o Miguel sabia o que fazia. Com ou sem baralho especial, eu fiquei completamente abanada com os truques que ele fazia uns atrás dos outros...

Isto fez-me lembrar dos tempos em que eu acreditava realmente naquilo que gostava, naquilo que me fazia perder horas de sono para poder aprender mais, para poder crescer sozinha e acreditar que todos temos um destino traçado numa determinada área. Fez-me voltar a acreditar na fotografia e na dança, duas áreas que pouco se conjugam mas que mesmo assim me diziam tanto. Podia não ter jeito para nenhuma delas, mas ainda assim conseguia-me sentir feliz quando acreditava que podia fazer alguma coisa por elas. E é por isso que hoje, depois desta febre me ter passado gosto de apoiar e incentivar quem segue os seus sonhos, ou faz aquilo que realmente gosta. É por isso que continuo a ir, sempre que posso, visitar o meu grupo do desporto escolar. Independentemente dos anos que passaram, vejo nalguns daqueles miúdos a vontade que eu tinha em fazer alguma coisa diferente. É claro que agora, mais madura e com uma visão completamente diferente do valor que eles têm, dou-lhes na cabeça sempre que sinto que eles se andam a baldar, e não gosto de o fazer. Não gosto nada de sentir que eles não estão a dar o seu melhor, que se estão a desintegrar ou que estão a perder a paixão por aquilo que os une. Hoje percebo todas as palavras da nossa mais que Mentora, aquela que sempre nos deu na cabeça para esticar a ponta do pé, para melhorar a expressão facial ou para ter movimentos mais fluidos e naturais. Dou por mim a ter artigos de motivação no desporto para tentar saber o que fazer com eles, tal não é o desespero por vezes. Gostava que eles fossem capazes de perceber que o esforço que eles fazem duas horas por dia não é nada ao fim de um ano; gostava que eles percebessem isto enquanto fosse tempo, que aproveitassem como eu aproveito agora, tardiamente, por eles e para eles. Porque quando isso acontecer já vai ser tarde, já eles vão perceber que os tempos de secundário acabaram e que há um novo mundo à espera deles...
Em quase nada difere dos meus tempos de faculdade. Há 2 anos quando andei à procura de estágio, e quando me fecharam imeeeeeeensas portas por ser demasiado nova e por não ter qualquer experiência na área, eu era tal e qual como o Miguel, andava à procura da minha sorte. Andava a tentar mostrar aos outros a paixão que tinha, e tenho (cada vez mais), por aquilo que faço e lutava todos os dias contra quem achava que não ia conseguir. E cheguei mesmo a acreditar que isso não ia acontecer, ás tantas já questionava tudo, se aquele seria mesmo o meu caminho, se seria um sinal qualquer a dizer que o meu caminho não era este, ou que estava a  perder tempo, que o problema era meu e que não tinha jeitinho nenhum para a área... Pensei tantas vezes em desistir que quase o fiz; maluquice a minha; felizmente não fia porque tive quem e desse a mão, e me desse na cabeça quando eu mais precisava... E foi aí que quando a nuvem negra saiu de cima de mim que as coisas começaram a correr melhor.

Hoje posso voltar a acreditar que nunca é tarde para seguirmos os nossos sonhos, sejam eles qual forem, que nunca é tarde para falarmos com estranhos e para mostrarmos aquilo que sabemos fazer, aquilo em que somos felizes, aquilo em que nos sentimos bem connosco próprios. Porque com ou sem baralho especial eu sei que o Miguel hoje só queria mostrar o seu trabalho, assim como eu já fiz, e acabo por fazer, ainda que de maneira diferente.

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